Vencido o medo
Não quero que as feras se afunilem
ao atravessar o arco
não quero que o circo se desmorone
para abafar a queda do trapezista
não quero falar do inferno
que é descer pelas escadas ingratas
da memória
regressar à infância como estrangeiro
assassinar à queima-roupa os dias
onde nos perdemos
enobrecemos em canto as brisas
cerzimos dias calmos
em tempos tempestuosos.
Mas se não podemos falar da morte
o melhor é recomeçar:
Do outro lado do fogo
as cinzas esperam-no
burilado pela memória
o sismo é acariciado num exercício
de sílabas ofegantes, trementes
o nome do animal cai do animal, o cavalo
o nome, o Mongol, o poeta, o palhaço e a luz
vencido o medo, o vulcão torna-se local de pesca
a necessidade de ver Prometeu em todos estrangeiros, anedótica.
Finalmente prontos para o poema:
Fechas os olhos
ela despe-se
a memória
o quarto.
…
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