Um certo delírio na fúria é provavelmente vizinho de uma forma mais canónica de magnificação. Uma lupa própria para as mãos e restantes apetrechos do homem que não desculpam a ineficácia da palavra. Enquanto sobrevive à lucidez, mantém, ou faz por manter, um currículo de coisas impossíveis para às quais não há grande explicação, a não ser a que há-de ser parida pela discussão, em jeitinho de rescaldo, efectuada prazerosamente entre o merceeiro e o taberneiro, entre goles de minis e olhares de soslaio a rabos estrangeiros, existencialmente estrangeiros. Socos sem preâmbulos. Mortes sem posfácios, a menos que Jesus se ajeite na escrita. Oxalá Deus arbitre, pelo menos, os epitáfios dos homenzinhos.
Se eu amanhã encontrasse uma solução para o mundo, ficaríamos exactamente na mesma, uma vez que o mundo já haveria mudado entretanto. Os céus, os possíveis e os improváveis, esses ou outros, depende do olho, míope ou de águia, capturados pelos poemas. Tirar-se-iam disto curiosas consequências ou desvios, ou, em não havendo escrúpulos, propagandas. Ou, caso não nos esqueçamos do século que costumamos pisar com os nossos pequenos pés de chumbo e, por conseguinte, contaminar a terra com as nossas danças entrevadas, novas psicologias. Psicologizar os passos em falso, por exemplo. Dir-se-ia que avançamos em direcção à explosão caprichosa que alguns insistem em designar futuro. Uma mão a acercar-se do rosto da amada. A cada nanossegundo as expectativas do coração são outras. Os estatísticos babam-se profusamente com o ensejo de plasmar em gráfico o amor. Este labor de desapego entremeado por surpresas, que produz um atraso inesperado no processo, é tão-só um caminho. És todo lógicas, todo ciências e esqueces o essencial: chegamos sempre no passado às coisas. Não podemos tocar verdadeiramente em nada. É tempo de rever as fórmulas. O universo cresceu, por vezes armou-se estacionário. Estimar-se-ia, se houvesse cérebros capazes de tal, que o teu nome, mil vezes incendiado pela poesia, é um vazio quântico. Um nada a borbulhar de vida. Mas aqui voltarei mais tarde, com outra mão, por uma trajectória que não exactamente esta.