Trabalho sem dom

roberto gamito
2 min readFeb 27, 2019
Photo by Florian Klauer on Unsplash

Trabalho sem dom para a morte
horas a fio pelejando contra dias inteiros
a encaixotar anos dentro de versos
alegrias que não terão morada
na verdade de uma elegia
sendo isto um exercício olímpico de fingimento
então cá vamos, como tem passado?
refém em área de derrocada, vivo onde calha
nunca conheci quem escrevesse o teu nome a arfar
quando ataca o bruxedo depauperando o valor
de um outro ou doutro detalhe magnificado
e irrespondível, uma bênção consumível
farol do desmaio, apeadeiros e fiascos,
entre elipses e eclipses alguma coisa há-de entenebrecer
fingíamos através da sintonia dos corpos atordoados
a esperança de um porvir benfazejo
parecia que adivinhava
caprichos urgentes de carnes ferventes
escarafunchávamos nas epopeias à cata duma migalha profícua
purga imaginária, jogar os dedos nervosos à boca, vomitar as sobras,
o cadáver divino, deidade sem importância, larápio apanhado em flagrante
na sua inexistência
pôr cobro aos devaneios, pôr fim ao cortejo das parangonas
ai este século que nos garrota, o fôlego curto
a paciência metida em trabalhos
sou um belo bicho instruído acamando o sorriso
na face cortejada ora por abutres fardados pelo desinteresse
ora por vermes sem vergonha
a língua entrouxada num discurso amiúde emperrado
o homem intransigentemente pacóvio
os ditos comuns à mão de semear
auxiliando o miolo no zénite do desnorte
o despique de dois demónios no leilão de Afrodite
agora aparece-me aqui o beijo, feito inocente,
questão entre mim e ele, tão distante como irreal,
uma coisa leva a outra, não chames pelo poema,
ele, todavia, não replicava, seja por mimetismo
blagues, balelas, peregrinações circulares,
condomínios de declives apócrifos
estentórea voz diante dos nós. Porta-estandarte
de causas inquinadas à nascença conversando
com o inimigo cada vez menos excitadamente.

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Written by roberto gamito

A tensão da narrativa aumentou…e o narrador morreu electrocutado. @robertogamito

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