Rituais de ressurreição

roberto gamito
1 min readJun 3, 2018

Deixemo-nos então de xaropadas
De aliterações orelhudas para conferir centímetros fictícios ao poema,
Ele eternamente pequeno, uma pequenez identificada como graúda,
A não ser que tu, demónio a meia-haste, leves o ritual de ressurreição,
Que parece empatado, a prolongamento.

Não me coíbo de me dirigir aos deuses antigos
Quando o corpo tenso saboreia a arquitectura do tesão.

Deus morreu. Os abutres, de tanto salivarem, inundaram os desertos.
Assim nasceram os oceanos.

Mas a história, aquela que me coube, reza assim:
Uma mão apodada de hidra, eis o oráculo,
Tudo isso parecia um convite à destruição.
O compêndio de façanhas é grosso e é inútil.

Outra versão, talvez mais próxima de nós:
Um cambalear de morto-vivo
De quem se balda aos rituais de ressurreição
Saltando de cartucho em cartucho gasto, quais nenúfares,
Percorrendo assim os rios de sangue com uma tranquilidade imperturbável
E entre a chuva imprevisível de piroclastos
Dança, qual vulcanólogo experimentado, de costas
Para a erupção.

Vivemos de costas para a erupção.
E vivemos tanto porque ao contrário do fogo
O gelo conserva.

Qual será a versão, depende, como sabemos, ou devíamos saber, do ponto
de vista. A teoria das esparrelas fornece-nos lenha argumentativa para ambas as versões. Porém, nada disto nos afecta. Feliz ou infelizmente, eis outra questão.

Sign up to discover human stories that deepen your understanding of the world.

Free

Distraction-free reading. No ads.

Organize your knowledge with lists and highlights.

Tell your story. Find your audience.

Membership

Read member-only stories

Support writers you read most

Earn money for your writing

Listen to audio narrations

Read offline with the Medium app

roberto gamito
roberto gamito

Written by roberto gamito

A tensão da narrativa aumentou…e o narrador morreu electrocutado. @robertogamito

No responses yet

Write a response