Rituais de ressurreição
Deixemo-nos então de xaropadas
De aliterações orelhudas para conferir centímetros fictícios ao poema,
Ele eternamente pequeno, uma pequenez identificada como graúda,
A não ser que tu, demónio a meia-haste, leves o ritual de ressurreição,
Que parece empatado, a prolongamento.
Não me coíbo de me dirigir aos deuses antigos
Quando o corpo tenso saboreia a arquitectura do tesão.
Deus morreu. Os abutres, de tanto salivarem, inundaram os desertos.
Assim nasceram os oceanos.
Mas a história, aquela que me coube, reza assim:
Uma mão apodada de hidra, eis o oráculo,
Tudo isso parecia um convite à destruição.
O compêndio de façanhas é grosso e é inútil.
Outra versão, talvez mais próxima de nós:
Um cambalear de morto-vivo
De quem se balda aos rituais de ressurreição
Saltando de cartucho em cartucho gasto, quais nenúfares,
Percorrendo assim os rios de sangue com uma tranquilidade imperturbável
E entre a chuva imprevisível de piroclastos
Dança, qual vulcanólogo experimentado, de costas
Para a erupção.
Vivemos de costas para a erupção.
E vivemos tanto porque ao contrário do fogo
O gelo conserva.
Qual será a versão, depende, como sabemos, ou devíamos saber, do ponto
de vista. A teoria das esparrelas fornece-nos lenha argumentativa para ambas as versões. Porém, nada disto nos afecta. Feliz ou infelizmente, eis outra questão.