Rastro canoro
Se olhássemos os poemas de outra forma
a uma luz mais ordinária
perceberíamos que o poeta não faz outra coisa
senão percorrer o seu rosário
de adversidades, provações e despedidas
rezando subterraneamente pelo impossível.
Tal como o primeiro dos primeiros
o poeta é aquele que testemunha o abismo
e enquanto cai, simulando o mito de Sísifo na queda de Satã,
vai deixando atrás de si
graças ao sangue
um rastro canoro de hieróglifos nas escarpas.
A mensagem terá de ser cifrada
caso contrário o leitor seria incapaz de sair vivo do poema.