o que é o Homem durante este eclipse?
I
feriar o peito ofegante
ó coração letrado e míope
mesclar mediania e oportunismo
presente amputado
sem pernas para andar
somos contemporâneos do passado
improviso levado aos píncaros
por actores reformados
pelos afónicos mais em voga
pelo jornalista saltitão
que orla a cavalo da patranha
a refrega mais sumarenta,
ó abençoada teatrocracia.
ateimei diante do regimento de cadáveres esquisitos
não cedi nem um centímetro do meu território mais estéril
desembainhei o lado mais turvo da língua.
oravam mortos-vivos e acólitos ao deus heptadecapitado.
quem andam a tentar enganar desta vez?
não sou a luz, mas, meus amores, custa-me ver-vos tão idiotas
a naufragar quando esbarram contra coisa nenhuma.
II
o que é o Homem durante este eclipse?
boato fluído, cela no cavalo ausente
mongol de mãos atadas, Farol de Troia
lá dentro pequenos homenzinhos
incumbidos de trazer o som e a fúria
a quem coçava os tomates à paz postiça
o filósofo retoma a apendicectomia ao mal
mas o apêndice não é um apêndice não é um apêndice
bandarilhava-lhe o Diabo aos ouvidos
sou incapaz de distinguir o homem de um monte de merda
é chegada a minha hora, cogitava o Bobo.
querido Aquiles, observa só como se eterniza um nome:
nunca procurei consolo na bebida nem na droga,
nem tão-pouco numa rata mais desocupada
não escolho o esquife da glória, nem a ataúde da família
escolho trasmudar a língua em lâmina
e decapitar o rei no auge do riso.
estalo os dedos e todos os templos ardem.
…
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