O murmúrio dos deuses

O murmúrio dos deuses
trovejando nos cumes inacessíveis
sábios adormecidos como vulcões
incapazes de decidir se a erupção é ainda uma resposta
montanhas que o Tempo
leva tempo a tornar de argila.
Sê mestre invencível
antes da grande derrota
não dês nada por garantido, aperfeiçoa-te até escutares
os ossos a ceder, a carne a perfurar de rompante os sedimentos de pele, a mão, geológica e elástica, tomar a forma de faca-rosa. Caso contrário serás tão-só a sombra de Aníbal. Serás apenas um fracassado medíocre. As prateleiras da História não terão lugar para ti
se optares pelos atalhos caducos do Diabo,
hoje vendidos a preço de saldo
consente que a derrota te minimize absurdamente
até seres um entre muitos pontos ínfimos
no interior do ponto azul-claro.
não voltes a perguntar à luz o caminho
deixa que o nome — esse que faz o teu coração ribombar —
se transfigure em cavalo a galopar em direcção ao pó
Desse nome
de onde surgem a luz as sombras
e os interstícios não contaminados por interpretações
obterás as provisões
que precisas para viver
até que a noite chegue
pontual e definitiva.