Na margem de uma profecia apocalíptica
Duas ou três palavras pneumáticas
enlaçadas ao olhar dardejante
encetam o rito ululante
uma frase sôfrega
um silêncio
primeiro morno
depois infernal
rente ao suspiro
À toa semeiam-se peças de roupa
pelas divisões da casa
um futuro pomar provisório
um corpo húmido
graças a uma chuva de beijos
corpos catapultados um contra o outro
pelo desejo
temporais de efeitos colaterais: palavras isoladas
ganham a força
de livros intemporais
afinam-se trajectórias
há dialectos próprios para cada posição
assim afiançam as equações da intimidade
as mãos sobem e descem o corpo
num afã sisífico
não fosse realizado com um inarredável sorriso
Em cada divisão da casa
sementes de futuras memórias
risos disseminados como propagandas messiânicas
a esta distância
no desenlance do gemido
as coisas surgem ainda inesperadamente
simultaneamente embaciadas
e sufocantes.
Na margem de uma profecia apocalíptica
baptizamos este episódio carnal
como Esperança.