este é o barro que tenho vindo a moldar
de perto, fogo, rugidos e cinza
de longe, a sete passos do quadro vivamente impressionista
nessas cores agora agrupadas em formas e gritos
reconhecíveis — uma erupção
uma escoada piroclástica voraz só boca
a espumar de pressa a transbordar de eficácia,
exempta de soletrar o Bem
engole a paisagem num trago
após milénios de ensaios
regresso ao epicentro das trevas
depois de as mastigar longamente de as ruminar
de modo a que cada passo dado seja hoje um território
onde ganhei músculos cera e penas de águia
horas de voo
se saio do Inferno quando quero, alguma coisa estou a fazer mal ao Mal.
o galope da escoada
não me sai das mãos
centro a dança
no epicentro do tempo
um demónio só é apreciado
no último círculo.
na esplanada belamente situada nos ombros dos gigantes
o vampiro bebe o seu sangue
beneficiando de uma perspectiva panorâmica sobre a morte
lavrando o betão galgando os muros obliterando verdades e mentiras com o mesmo ímpeto
trezentos e sessenta graus de medusa
do alto,
uma reincarnação de Pitágoras
questiona-se: desta vez quantos ficaremos
para contar a história?
um homem com a vista desimpedida para a catástrofe
aguarda sentado enquanto pinta o futuro a cores frias e quentes
de pé no ofício, como um antigo estóico
esgota-se num último pensamento:
este é o barro que tenho vindo a moldar
a várias mãos, com a cabeça, aos pontapés.
Cantos de cisne, fósseis, uma indústria de estátuas.