Caminho de argila

roberto gamito
1 min readAug 8, 2017

quando as mãos
eram ainda facas em flor
rasgando impiedosamente as noites íngremes
e a cada esquina
um saque de certezas ocorria
dias relacionáveis com horas de voo
interpunham-se ferreamente entre a carne
obscurecida pelos automatismos
e as tempestades as hecatombes as profecias
e a poesia era um caminho de argila redemoinhante
labiríntico de sinalética hieroglífica
esse caminho solitário, como escreveu Celan, até ao Outro
ao radicalmente Outro, prenhe em eclipses e em hesitações
em direcção — quem sabe — ao Inferno, assim assevera a brochura
é uma reconciliação mil vezes adiada entre a coisa e o seu nome.

num instante,
não mais que um instante
nessa “mudança de respiração”
o abismo tão caro a este século
será momentaneamente suprimido.

Um gesto certeiro
nem a mais nem a menos
um gesto quântico.

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Written by roberto gamito

A tensão da narrativa aumentou…e o narrador morreu electrocutado. @robertogamito

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