A verdade é caça grossíssima
Sim, sei-o absolutamente, há nomes que crescem vertiginosamente, em todas as direcções, como explosões incansáveis. O universo limita-se a acompanhar como pode o crescendo de silêncio que preludia os grandes eventos. Há muitas teorias, todas parciais; esparrelas de faz de conta adornando comoventemente o solo estéril da selva urbana. As brochuras mencionavam que era arável.
A verdade é caça grossíssima.
Sim, sei-o absolutamente, do homem-ponto ao homem-universo vai um nome. Uns conhecem-no como Deus, outros como Amor, assim maiúsculo, ao jeito de Emily Dickinson. Os demais, espécie desacreditada, garantem que é exactamente a mesma coisa. Os entendidos — mas há mesmo entendidos? — afiançam-nos que nunca houve dois sinónimos absolutos.
O reino dos números progride alarmantemente qual peste não poupando ninguém. Não há voz capaz de lhe fazer frente. O recuo do canto. O ruído é o cadáver exumado da língua una de Babel. A língua com que — todos — nos desentendemos.
Doravante resta aos heróis a cósmica tarefa,
uma arqueologia doméstica
procurar-me no ruído de fundo do Universo
muito antes de ser estrela
e partir
rumo ao teu nome
dançando.
Podem vir as sereias, se ainda as houver,
com o seu canto ou com o seu silêncio
mil e um destinos e noites
nada poderão fazer
contra um nome em expansão.
Sei que é tarde
para isto, e ainda mais para um poema de amor
mas os apeadeiros da origem
até Ítaca foram tantos, e tão difíceis como um trabalho de Hércules, e eu Davidíssimo, tremendo a cada Golias.
Do ponto primeiro até ao universo
da luz até à carne versátil e frágil
volvidas as negociações com as trevas
resolvi estacar na forma
— Homem.
Durante demasiado tempo pensei ser incapaz
mas eis-me aqui, no cume provisório
fruindo da paisagem outrora engessada.